segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Testemunho de Joaquim Benite

Mário Barradas, que faleceu subitamente, aos 78 anos, foi uma figura marcante do teatro português do pós-25 de Abril. Director do Conservatório, proposto por Madalena Azeredo Perdigão por altura da reforma determinada pelo Ministério da Educação na fase final da ditadura, Mário Barradas viria a fundar, depois da Revolução, o Centro Cultural de Évora, uma das estruturas pioneiras da descentralização teatral, conceito pelo qual se bateu e a que dedicou, praticamente, toda a vida. Antigo advogado em Moçambique, embora natural dos Açores, decidiu, a certa altura, mudar de carreira e fez o curso de direcção na Escola do Teatro Nacional de Estrasburgo.Foi funcionário da Secretaria de Estado da Cultura e Director Geral dos espectáculos, e nessa qualidade teve uma intervenção permanente e uma grande influência no desenvolvimento e constituição do actual tecido teatral.Foi fundador e director da Escola de Teatro do Centro Cultural de Évora e nessa qualidade formou muitos dos actuais actores e directores profissionais.Como encenador, Mário Barradas foi um artista vinculado ao realismo e profundamente influenciado pela Escola Francesa dos anos 60 e 70, marcada fundamentalmente pelas teorias de Brecht. Era um intelectual de Esquerda e militante comunista.A morte inesperada impede-o de realizar o último projecto em que, com grande entusiasmo, trabalhou: a encenação de “Troilo e Créssida”, de Shakespeare, co-produção entre a Companhia Teatro de Almada, A Companhia de Teatro do Algarve e a Companhia de Teatro de Braga, cuja estreia estava prevista para 22 de Abril de 2010.A comoção que sentimos pela morte de um grande homem de teatro associa-se, neste momento, a uma dolorosa sensação de perda.Mário Barradas perdurará, no entanto, na nossa memória.
Joaquim Benite
Director do TMA

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