segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mário Barradas: Um homem coerente, um Senhor do Teatro

Recebi a notícia do falecimento de Mário Barradas no Recife, onde neste momento estou.
Não posso conter a minha tristeza muito vincada.
Sempre apreciei Mário Barradas.
Como pessoa simples, homem de pensamento claro e justo, coerente nas ideias que defendia para a libertação cultural deste nosso povo que permanece toldado pela vaga imensa de futilidades com que o anestesiam, Mário Barradas nunca foi um extremista, nunca autorizou ser sectário, nunca deixou de ser um homem que procurava soluções sem deixar de defender o seu ideário. É isso que torna respeitado e honrado um homem.
O CENDREV é a sua grande obra e ele ficará ligado para sempre. Mas, sem nunca ceder, Mário Barradas projectou a arte a que se devotou, para além do palco, no teatro radiofónico e até nuns excelentes programas de poesia que a televisão condescendia em pasar antes do 25 de Abril. Mas, intransigente, Mário nunca alinhou em produtos do tipo telenovelas ou similares. O canal 2 era a sua única disponibilidade. Muito rara, diga-se.
Mário Barradas nunca perdeu o seu acento açoreano. Foi nos Açores que ele teve as suas raízes artísticas, pertencendo a uma geração de renovadores e lutadores que naquelas ilhas, então bem perdidas no meio do Atlântico, nos anos sessenta, trouxeram a lufada de ar e a revolta contra o teatro oficioso e oficial e, gerenosamente e com poucos meios, expressaram a sua arte aberta no cinema novo que brotou naquelas Ilhas de Natália e de Nemésio.
a obra de Mário Barradas não se cinge ao seu papel, sempre criativo e modernizador, de encenador. Mário Barradas foi um excelente actor, um excelente "diseur". Relembro-o numa das representações que mais me perduram na memória e que Mário também encenou, a obra de Shakespeare, MEDIDA POR MEDIDA, levada à cena no Teatro Garcia de Resende. Foi uma produção do que de melhor se fez em Portugal até hoje.
Falar de Mário Barradas, agora que nos deixou, é antes do mais tarefa para outros. Esses outros que o façam sem hipocrisia e com honestidade, a mesma que Mário sempre demonstrou.
como didadão de Évora, não esqueçamos, Mário foi Presidente da Assembleia Municipal e foi nesse exercício que o Plano Director de Évora foi aprovado. Para além de muitos outros tributos, espero bem que Évora, institucionalmente não esqueça este e coloque a sua bandeira municipal a meia haste.
Envio, em meu nome e no da minha mulher, a expressão amiga do nosso pesar.
Paulo Barral

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