quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Teatro Mário Barradas... em Évora

Morreu Mário Barradas. Acabei de o saber... e, para além de pensar que o Teatro Garcia de Resende deveria passar a chamar-se: Teatro Mário Barradas, assinalo este momento com a evocação de uma pequena e insignificante história suscitada pelo luto... porque o luto dos amigos, em nós, evoca o seu melhor... De facto, não deixa de me ocorrer a imagem de um encontro que com ele tive, sob os arcos que vão do Largo Luís de Camões para o Garcia, lá, em Évora, quando a cidade era a capital da cultura e o povo a vivia de peito aberto, na rua... Eu tinha 16 anos e encontrara-o em boa hora porque me pairava na cabeça o projecto de abraçar as artes que o Centro Cultural de Évora em mim despertara... disse-lhe!... ele, demorou um pouco para retorquir e perguntou-me: "Estás a acabar o Liceu, não é? Mas pensaste ir para a Universidade... diz lá que curso querias fazer" e eu, um pouco desiludida por pensar que ele ia ficar entusiasmado por haver jovens que acompanhavam o trabalho cultural que a Companhia levara, depois do 25 de Abril, ao coração do Alentejo, respondi: "Filosofia..." o Mário parou, olhou para mim e disse: "Vai para a Faculdade... tira Filosofia"... eu tentei ripostar: "mas... posso fazer as duas coisas até porque o teatro pode articular-se com o estudo e a leitura"... ele voltou a parar e, em frente da Violeta (a pastelaria, claro), disse-me, muito sério: "És muito nova... vai primeiro fazer Filosofia... depois, se ainda quiseres vir, vem"... Acompanhei o trabalho do Mário Barradas e do grupo de actores que criou, do Centro Cultural de Évora ao Cendrev e à Companhia... devo à sua arte e à sua forma de estar na vida, uma parte do que sou. Por isso, hoje, sinto que todos perdemos um amigo e um Mestre... mas se sinto que a minha vida ganhou muito por habitar o espaço que ele escolheu para trabalhar, imagino a perda dos meus amigos que, com ele, partilharam uma vida inteira de quotidianos, mágoas, alegrias e trabalho... conforta-me saber que a herança que o Mário Barradas deixou a este país tem na Ana Meira, no Álvaro Corte-Real, na Isabel Bilou, na Rosário Gonzaga, no Rui Nuno, no Victor Zambujo, no Zé Russo e em tantos outros (de que não posso deixar de destacar o Fernando Mora Ramos), a garantia de continuidade de que as novas gerações já dão sinal. Um grande, grande abraço para todos... por todos nós, os que aprendemos a construção do ser também convosco!..
Ana Paula Fitas

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